terça-feira, 16 de abril de 2013

Homofobia na escola: desafio de todos nós


Homofobia na escola: desafio de todos nós


A homofobia é um tipo de preconceito criado e disseminado no dia a dia, constituindo-se como uma categoria do pensamento e do comportamento humano, assim como o racismo, o sexismo etc. Pode se manifestar de várias formas, que vão desde a violência verbal, expressa em comentários pejorativos, piadas, xingamentos, até ações de violência física que podem inclusive levar pessoas à morte.
O ano é de 1994. O cenário, a Semana Cultural de uma escola pública de Ensino Fundamental e Médio. A circunstância: um aluno do primeiro ano do Ensino Médio expõe uma poesia que fala das suas angústias, dúvidas e desejos relacionados à sexualidade. Nesse caso, a descoberta da sua homossexualidade. Para ilustrar essa poesia, ele utiliza um cartaz com a figura de duas mulheres se beijando. No dia seguinte, o seu cartaz contendo a poesia e a figura havia desaparecido.
Naquela época ele não sabia o que era homofobia, nunca tinha ouvido falar, mas sabia que o preconceito e a discriminação haviam passado por aquela sala. Pode ter sido um aluno? Pouco provável, pois na noite em que ficou exposto, provocou a curiosidade de muitos. Pode ter sido alguém da direção escolar ou do corpo docente? Também não se pode afirmar, a dúvida que restou foi: por quê?
Preconceito
De acordo com Daniel Borrilo, a homofobia é um conjunto de normas e comportamentos presentes em nossa cultura, que carregam uma carga negativa e destrutiva e que resultam em um fenômeno de baixa autoestima dos homossexuais devido a toda a carga negativa que aprenderam e assimilaram a respeito. Para o autor, “a homofobia está no cerne do tratamento discriminatório”.
São diversos os atores envolvidos nesse processo de preconceito. Os alunos que discriminam, rotulam, agridem são outros atores importantes. Cabe perguntar: por que o fazem? O que temem? Por que se incomodam tanto com as diferenças? Por outro lado, professores e direções que afirmam na sua escola não haver gays estão se omitindo da responsabilidade de tratar dessa questão.
Nega-se que há gays e lésbicas nas escolas e, não havendo sujeitos, não existe a necessidade de discussão. Na suposição de que realmente não haja gays, lésbicas, travestis nas escolas, ainda assim seria função da educação abordar somente temas que dizem respeito a sua realidade imediata? Falar e aprender sobre diversidade sexual é uma exclusividade somente de gays e lésbicas? Aqui o silêncio age como um dispositivo de preconceito.
O silêncio não ajuda
Na medida em que as pessoas não abordam o tema ou negam-se a falar, estão cada vez mais reforçando práticas discriminatórias e homofóbicas. A invisibilidade com que o tema é tratado, o silêncio da instituição se junta com a violência real dos corredores e dos recreios e faz com que adolescentes e jovens, no momento em que descobrem o desejo por pessoas do mesmo sexo, sintam-se acuados em vivenciar a sua sexualidade e consequentemente tendem a omitir a sua orientação sexual, ficando "dentro do armário".
Se a escola ou o(a) professor(a) não aborda o tema, ou quando aborda desqualifica e estigmatiza as expressões homossexuais, não será na escola que jovens gays, lésbicas e travestis encontrarão uma referência para compartilhar suas dúvidas e incertezas e angústias sobre sexualidade. Também não será no espaço escolar, local onde muitas vezes é motivo de piadas e chacotas dos colegas e não encontra na direção da escola ou no corpo docente um espaço onde ele possa falar sobre a sua sexualidade e vivenciá-la sem o temor de ser julgado.
Alexandre José Rossilicenciado em Filosofia, doutorando em Educação, pesquisador na área de políticas de combate à homofobia, e políticas de diversidade em educação, Porto Alegre, RS.
Texto publicado no jornal Mundo Jovem, edição nº 417, junho de 2011, página 20.

Nenhum comentário: